19 de outubro de 2013

A culpa? É dos FP

Hoje, como é sábado, e antes de fazer um relatório, cujas 40 horas que MAL me pagam, não permitiram realizar, pois como entro por voltas das 9 horas e o melhor que consigo é sair perto das 19 horas, quase sem tempo para almoçar, decidi ocupar um pouco do meu tempo a ouvir, ver e a ler notícias. 

Ao fim de algum tempo, ouvindo, lendo e vendo, atentamente, o que é notícia nos media, tirei uma conclusão que gostava de partilhar e que se resume, de forma simples e objetiva, que a culpa é dos funcionários públicos (FP)!

Não podem ser outros os responsáveis?


Não! É evidente que não! Essa espécie de gente é que é culpada da situação do país. Então não se vê logo?

Reparem, resumidamente, no dia-a-dia de cada cidadão.
Quando os nossos pais decidem ter filhos a quem recorrem? Ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), onde somos atendidos por FP, sejam administrativos, enfermeiros ou médicos, certo?

Depois de nascermos, além de sermos registados numa repartição onde os FP trabalham, recorremos outra vez ao SNS, para as pesagens, vacinações, etc, etc. E quem nos atende? Essa classe a que chamam FP.

Entretanto, vamos crescendo. E na fase da nossa adaptação à vida, na área educacional, entramos nas escolas. E pronto, lá estão eles outra vez. Auxiliares de ação educativa (antes contínuos/as), professores... Mais uma série de gente inútil que recebe um salário ao fim do mês e que não é mais que um peso nas contas do Estado. Hoje está provado que é um absurdo ter turmas pequenas, era esbanjar dinheiro. Turmas com menos de 40 alunos? Nem pensar! 

Vem um dia em que por uma qualquer razão temos contacto com o tribunal. Pimba, lá voltam eles a atacar... São juízes, oficiais de justiça, etc... 

Um dia, temos um acidente e necessitamos de cuidados médicos. Primeiro chamam os bombeiros, o INEM, a polícia, levam-nos para o hospital... e pelo meio de tudo isto, grande parte da gente que nos socorreu são FP. É preciso ter azar, já não bastava o que nos aconteceu e estes, os tais FP, parece que nos perseguem.

Eu, que sou FP, sinto-me mal por estar incluído nesta classe que tem vindo a ajudar a destruir o Estado. Afinal, para que gastam dinheiro com a saúde, educação, segurança e outros serviços? A Constituição nem expressa que essa é uma função de um “Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o aprofundamento da democracia participativa.” Ou será que tem?

Esqueçam o que leram até agora, pois como perceberam os mais atentos, este meu texto inicial é uma ironia e não revela, de forma alguma, o meu modo de pensar e de estar na sociedade. Entendo que estes serviços são fundamentais e indispensáveis à vida de todos os cidadãos. Não podemos viver sem os cuidados de saúde, sem a educação, sem a segurança.

Então? Perguntam, e muito bem, onde é que está o mal? Sabem que há quem saiba? 

O meu entendimento é que muito do mal está na estrutura de gente nomeada para cargos para os quais não tem competências ou aptidões e que para mostrar que trabalham apenas manda, sem medir, sem analisar, sem saber que resultados e/ou impactos terão as medidas adotadas. Como é que podiam fazê-lo se não sabem?

E depois, quando chegamos ao ponto a que chegamos, dizemos que a culpa é dos FP, de quem cumpriu, muitas vezes sem contestar, mesmo que tivesse conhecimentos e experiência para suportar essas suas “ideias”, mas alguém lhe responderia que “não é pago para pensar, por isso trabalhe!”

E quando existe alguém que sabe o que pode e quer fazer, esse alguém é posto de lado, pois é, como dizem na gíria, um elemento que vai criar problemas, logo é melhor não haver misturas.

Por isso, o melhor é mesmo continuar a dizer que a culpa é dos médicos, enfermeiros, professores, polícias, etc... que durante anos andaram aqui sem fazer nada de útil e ainda por cima levou a que, as mentes pensadoras, decidam que as medidas que devem ser adotadas são as de tirar-lhes os benefícios, sejam de pensões de reforma que justamente deveriam receber pelo contributo que deram, sem nunca terem fugido ao fisco, ou então de começar a despedir, sem saber quem, nem porquê. 

O que importa é reduzir o peso da máquina... mas sem reduzir no imóveis alugados por valores milionários, em detrimento dos imóveis próprios que se vão deixando degradar e que empobrecem o património do Estado português, mas que assim permitem enriquecer outros patrimónios de outros, portugueses ou não. 

Não importa reduzir no número e nos valores pagos aos administradores das empresas públicas, nos valores dos submarinos, tipo BPN. 

Eu acho que o problema está no saber onde e como cortar. Tal tarefa daria muito trabalho e neste momento não há gente competente na Administração Pública, os tais FP, para num prazo útil fornecer dados reais. Basta ver quando o governo manda que os serviços prestem certo tipo de informações. Isto só revela que não há verdadeiras redes partilhadas de informação, de serviços, e que a máquina não está estruturada para ser mais e melhor rentabilizada. É preciso aproveitar os recursos existentes antes de decidir. E garanto-vos, no dia em que isso for feito, a reforma do Estado poderá ser feita de uma forma justa e digna.

Eu credito que esse dia pode chegar, não sei é se, continuando o caminho atual, esse dia surgirá num momento em que ainda alguém capaz e competente esteja no lugar certo e com a motivação suficiente para fazê-lo.

Nota: Não se esqueçam de quem trata do nosso lixo, limpa os jardins, arranja ruas,...

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2013.02.07